Projeto Estrada Cultural

O estudante Ruan Pablo Ribeiro, 13 anos, saiu para mais uma aula de música no Ciep Operário Vicente Mariano, na Favela da Maré, quando soube que estava tendo uma troca de tiros entre traficantes e policiais.
Ele resolveu se arriscar e continuar seu caminho. Quando entrou na escola, ficou sabendo que quase metade da turma não havia ido, devido ao medo. Uma equipe do Caderno Ilha foi ao local para realizar uma reportagem com ele e os outros estudantes que fazem parte da Orquestra Maré do Amanhã. Esse projeto busca formar músicos profissionais, além de oferecer uma oportunidade a jovens da região, que sofre com elevados índices de pobreza e violência, a mudarem sua perspectiva de futuro e também seu presente.


Ruan não conseguiu esconder sua decepção com o ocorrido:


"Quase toda semana temos tiroteio aqui, na comunidade." Ele disse. "Infelizmente, as aulas foram canceladas várias vezes por causa desse problema, mas sempre são retomadas."
Ruan faz parte da Orquestra Maré do Amanhã desde que o projeto começou, em julho de 2010, e toca flauta. O instrumento custa R$2.000,00 e pertence ao conjunto, mas fica com o estudante durante tempo integral, para que ele possa praticar em casa. Assim como todos os outros jovens do grupo.


Carlos Eduardo Prazeres é o idealizador e coordenador do Projeto Estrada Cultural, da qual a orquestra faz parte. Não foi por acaso que ele resolveu implantar o projeto na Favela da Maré. Essa ideia surgiu devido a uma tragédia pessoal. Seu pai, em 1999, o maestro Armando Prazeres, regente da Orquestra Pró-Música, foi morto com um tiro após sofrer um sequestro relâmpago. Os autores do crime eram moradores da Favela da Maré.


"Quando idealizei o projeto, quis iniciá-lo no local onde viviam os assassinos do meu pai." Conta Prazeres. "Penso que, dessa forma, ajudamos a mudar o futuro de muitos jovens que poderiam acabar sendo levados para o mundo do crime."

O projeto conta com 60 jovens, em que 35 já são membros fixos da orquestra. Eles querem que, ainda este ano, as aulas sejam levadas para outras três escolas públicas da região, atingindo cerca de 150 alunos.

A situação da orquestra está começando a melhorar. Já confirmaram duas parcerias. Uma com a Lamsa, uma concessionária que administra a Linha Amarela, e que deu o apoio financeiro quando o projeto foi implantado. E também a multinacional State Grid, que se comprometeu a apoiar o projeto até 2014, com o objetivo de formar a primeira grande orquestra infanto-juvenil de cunho social do país.


"Passamos por muitas dificuldades no ano passado porque ficamos sem apoio financeiro, mas em nenhum momento pensamos em desistir [...] Os professores nunca deixaram de vir para as aulas." Diz  Carlos Eduardo Prazeres.

O conjunto com regência do maestro Júlio Siqueira, no ano passado, fez 15 apresentações oficiais, inclusive no Palácio de Cristal de Petrópolis e também na Câmara Municipal do Rio. Os estudantes continuam a evoluir musicalmente e, de acordo com os professores, já foram identificados grandes talentos.
"Percebemos que alguns alunos têm muita facilidade para lidar com qualquer instrumento." Diz Carlos Eduardo Prazeres.

Os pais percebram uma mudança nos estudos e no comportamento de seus filhos, que participam do projeto. Gerlaine Pires Nogueira, dona de casa e mão de um integrante da orquestra, diz que sua filha se tornou mais responsável e agora seleciona suas amizades.

Para mais informações acesse: www.projetoestradacultural.com.br

Fonte

(Imagem): https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsTJNkZQm0KCt-o7UIDGihusUFv3Wv-Zcr88lMGS5knGT1Tp47fqbMx7uaSkfWGAitdVD10uV5qRzezS8fJvChsngJCTbztDcsmv6q4TNinvXmyF3wsd35O1e7KaMAEAH-ydtPMRKQiSmv/s1600/Logomarca+ESTRADA+CULTURAL+RGB.jpg